Quando dia 12
chegar, fala que eu estou lá na esquina, vestido de indiferença. Fala que meu
carnaval continua muito além de fevereiro. Canta uma música pra ele de
"deixa estar". Fala que meu amor anotou o endereço errado, ou que
extraviaram-no no ponto exato da minha fraqueza... No meu Oasis prometido, eram
muitas vielas - o amor se perdeu. Fala que meu coração se abriu, e, sozinho,
morrendo de frio, acabou gripando e se recolheu mais cedo. Fala que minha
parceira de alma não sabe tabelar, eu sempre fico na cara do gol, mas a bola
nunca vem, e nosso jogo acaba sempre no zero a zero. Fala que nossa novela não
tem roteiros e que o protagonista não sou eu. Fala que aquele "eu te
amo" à beira do rio, desceu um desfiladeiro num grito bem alto, cujo eco
se calou por aí. Fala que aquela ausência, aquele espaço gigante na outra banda
da cama foi preenchido por bundas sem nome. Fala que o sexo é sem compromisso,
sem colorido, sem sal, sem nada. Fala que na minha cachaça mais louca, meus
olhos se fecham, eu fico tonto, e uma imagem patética se estabelece - a solidão abraça meus travesseiros pela manhã.
Fala que eu escondi meus versinhos ridículos que falam de amor no sótão do
esquecimento. Fala que no espelho do banheiro existem rabiscos iniciais de
nomes, borrados com batom ruim de R$ 1,99, num coração improvisado, de tempos
felizes e imemoriais. Quando dia 12 chegar, fala que eu não fui feito pra ele,
não me adaptei ao seu circo de elfos e duendes, seus tons em nuvens rosa-bebê,
sua quentura em amarelo-manga numa manhã de domingo. Fala a verdade pra ele,
fala que eu tenho inveja das declarações de amor na areia da praia, dos selfies
pós-sexo cada dia mais comuns nas redes sociais, destituídos de pudor, para o
despeito de quem não entende a "sessão Coruja". Fala pra ele, que eu
finjo que não, mas que acho lindo guerra de travesseiros que terminam em tesão,
suor e prazer. Fala que dou risada de canto de boca com pitadas de sorvete na
ponta dos narizes, acompanhado daquele sorriso maroto, travesso, inocente, e
frases do livro "Eu me chamo Antônio", deixados no meu zap zap. Quando
o dia dos namorados chegar, fala que eu não o reneguei, fala que eu não mais o considero
um artifício capitalista da indústria do amor, fala que eu não vou mais
insultá-lo. Fala que eu faço tipo de durão, mas aplaudo emocionado todos os
filmes de comédia romântica, produzidos pelos gringos (Pxiii...ninguém precisa
saber). Fala pra ele, por fim, que eu estou dormindo, sonhando, me resignando,
me curando e que logo logo estarei por aí. Enquanto isso, me poupe, e só me
acorde quando o dia 12 terminar.
domingo, 8 de junho de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
CLICHÊ
Não dá para cantarolar o Rio sem se envolver com os tons do
TOM JOBIM
Não dá para desvendar a alma feminina sem ter que ficar de bituca
na sensibilidade do CHICO
Não dá para fazer um samba de primeira sem se perder nos
moinhos do CARTOLA
Não dá para exaltar a exuberância da língua portuguesa sem
aplaudir a grandeza do FERNANDO PESSOA.
Não dá para enfeitar-se dos pedaços de pétalas de palavras
que caem silenciosamente da árvore da
poesia, sem se emocionar com a
simplicidade genial do meu preferido MÁRIO QUINTANA.
Não dá.
Talvez também não dê mais para falar de amor sem pensar em VOCÊ.
CAPTURANDO O SOL
Hoje o sol fugiu do céu
Foi muito rápido...
Foi muito rápido...
Eu vi...
Assim como a dor sucumbiu à dispersão do tempo no coração de
um qualquer que estava prostrado ao chão..
O sol fugiu...
- Não quis mais atormentá-lo.
No final da noite, que figura,
O moribundo rabiscava o chão de terra
Um sol de barro foi sendo tracejado de improviso...
Olhinhos cintilantes acima de um sorriso inventado numa
boca torta, feitos com as digitais do artista improvável, no quintal da
esperança...
O cambaleante espírito arranjou um modo de paralisar o
brilho, vejam só, como uma fotografia que tem o poder mágico de eternizar a
beleza,
- O instante cravado
no tempo com lágrimas que já se foram...
Sol fujão - Nunca mais
E quem diria...
Ele até arriscou um sorriso antes do amanhecer
O céu, então, se abriu para abraçá-lo
E da dor, o moribundo fez arte, luz, superação e fé.
Eu vi, eu vi.
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