domingo, 8 de junho de 2014

ACORDE-ME QUANDO O DIA DOS NAMORADOS TERMINAR



Quando dia 12 chegar, fala que eu estou lá na esquina, vestido de indiferença. Fala que meu carnaval continua muito além de fevereiro. Canta uma música pra ele de "deixa estar". Fala que meu amor anotou o endereço errado, ou que extraviaram-no no ponto exato da minha fraqueza... No meu Oasis prometido, eram muitas vielas - o amor se perdeu. Fala que meu coração se abriu, e, sozinho, morrendo de frio, acabou gripando e se recolheu mais cedo. Fala que minha parceira de alma não sabe tabelar, eu sempre fico na cara do gol, mas a bola nunca vem, e nosso jogo acaba sempre no zero a zero. Fala que nossa novela não tem roteiros e que o protagonista não sou eu. Fala que aquele "eu te amo" à beira do rio, desceu um desfiladeiro num grito bem alto, cujo eco se calou por aí. Fala que aquela ausência, aquele espaço gigante na outra banda da cama foi preenchido por bundas sem nome. Fala que o sexo é sem compromisso, sem colorido, sem sal, sem nada. Fala que na minha cachaça mais louca, meus olhos se fecham, eu fico tonto, e uma imagem patética se estabelece -  a solidão abraça meus travesseiros pela manhã. Fala que eu escondi meus versinhos ridículos que falam de amor no sótão do esquecimento. Fala que no espelho do banheiro existem rabiscos iniciais de nomes, borrados com batom ruim de R$ 1,99, num coração improvisado, de tempos felizes e imemoriais. Quando dia 12 chegar, fala que eu não fui feito pra ele, não me adaptei ao seu circo de elfos e duendes, seus tons em nuvens rosa-bebê, sua quentura em amarelo-manga numa manhã de domingo. Fala a verdade pra ele, fala que eu tenho inveja das declarações de amor na areia da praia, dos selfies pós-sexo cada dia mais comuns nas redes sociais, destituídos de pudor, para o despeito de quem não entende a "sessão Coruja". Fala pra ele, que eu finjo que não, mas que acho lindo guerra de travesseiros que terminam em tesão, suor e prazer. Fala que dou risada de canto de boca com pitadas de sorvete na ponta dos narizes, acompanhado daquele sorriso maroto, travesso, inocente, e frases do livro "Eu me chamo Antônio", deixados no meu zap zap. Quando o dia dos namorados chegar, fala que eu não o reneguei, fala que eu não mais o considero um artifício capitalista da indústria do amor, fala que eu não vou mais insultá-lo. Fala que eu faço tipo de durão, mas aplaudo emocionado todos os filmes de comédia romântica, produzidos pelos gringos (Pxiii...ninguém precisa saber). Fala pra ele, por fim, que eu estou dormindo, sonhando, me resignando, me curando e que logo logo estarei por aí. Enquanto isso, me poupe, e só me acorde quando o dia 12 terminar.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

CLICHÊ






Não dá para cantarolar o Rio sem se envolver com os tons do TOM JOBIM

Não dá para desvendar a alma feminina sem ter que ficar de bituca na sensibilidade do CHICO

Não dá para fazer um samba de primeira sem se perder nos moinhos do CARTOLA

Não dá para exaltar a exuberância da língua portuguesa sem aplaudir a grandeza do FERNANDO PESSOA.

Não dá para enfeitar-se dos pedaços de pétalas de palavras que caem silenciosamente da árvore da 
poesia, sem se emocionar com a simplicidade genial do meu preferido MÁRIO QUINTANA.

Não dá.

Talvez também não dê mais para falar de amor sem pensar em VOCÊ.

CAPTURANDO O SOL




Hoje o sol fugiu do céu
Foi muito rápido...

Eu vi...

Assim como a dor sucumbiu à dispersão do tempo no coração de um qualquer que estava prostrado ao chão..

O sol fugiu...

- Não quis mais atormentá-lo.



No final da noite, que figura,

O moribundo rabiscava o chão de terra

Um sol de barro foi sendo tracejado de improviso...

Olhinhos cintilantes acima de um sorriso inventado numa boca torta, feitos com as digitais do artista improvável, no quintal da esperança...



O cambaleante espírito arranjou um modo de paralisar o brilho, vejam só, como uma fotografia que tem o poder mágico de eternizar a beleza,

 - O instante cravado no tempo com lágrimas que já se foram...



Sol fujão - Nunca mais

E quem diria...

Ele até arriscou um sorriso antes do amanhecer

O céu, então, se abriu para abraçá-lo

E da dor, o moribundo fez arte, luz, superação e fé. 

Eu vi, eu vi.