Em um antigo monastério de um bairro
pacato no interior da Itália, um seminarista postulante a padre se via às
voltas com um amor proibido e as regras de conduta de um tio muito ranzinza que
o havia criado dentro do mais absoluto ortodoxismo católico. O jovem fora
submetido, com êxito, a desafios diversos para provar sua total devoção à vida
religiosa, a fim de estar apto a receber a benção suprema do curso eclesiástico
ministrado pelo próprio tio. Depois de
anos de estudos e treinamentos, o candidato a padre bateu a porta dos aposentos
do velho mestre e disse:
- Acho que já estou pronto para
ser ordenado padre da Igreja da Luz. Ministrei pontualmente todas as missas
agendadas da semana, abençoei as dispendiosas obras de caridade da comunidade
com as generosas ofertas dos fiéis e o mais difícil para mim foi negligenciar em
definitivo o demoníaco amor pela Carminha, sentimento que me acompanha e
desarranja desde que minhas retinas se viram perdidas em encantamento pela
Carmen Lúcia nos jardins da igreja, tudo em nome do ordenado e em respeito a
tudo que me ensinaste sobre responsabilidade com as coisas de Deus. Espero que
o Senhor esteja orgulhoso de mim! Não há mais nada a aprender.
O velho sorriu e olhou para o
jovem seminarista com uma ternura incomum, jamais vista em tempos de duro
treinamento e disciplina. Ele tinha a bíblia aberta nas páginas do Decágono,
quando falou:
- Enfim foste testado, meu
garoto! Ansiei temerosamente por este dia. O dia em que foste testado pelo
coração. Deus faz as revelações ao seu tempo. Mandou um anjo sem asas para te dar
o último dos ensinamentos. Fico orgulhoso em ter um aluno tão dedicado e zeloso,
mas sem pesar e com alegria no coração vos digo que não sereis mais padre.
O sobrinho se prostrou de joelhos
perante o tutor e beijando-lhe as mãos continuou:
- Amado Tio, não digas isso, o
senhor me ensinou que Deus é a verdade e a vida. Ele é tudo para mim agora. Oh,
mestre, o que pensarás Deus de mim se eu o trocar por um sentimento bobo de
criança nascido entre as rosas e hortaliças, em noites frias de inverno da
Igreja da Luz? Como posso não ter aprendido o caminho correto, se o que escolhi
foi renegar o mundo em nome do PAI de Todos? O que fiz de errado?
- Simples, amado! Vós não entendestes o décimo primeiro
mandamento, sem o qual todos os outros não tem a menor importância.
Fechando a bíblia, o velho do
monastério respirou fundo e olhou para o seu pupilo com olhos de adeus, dizendo por fim:
- SEJAS FELIZ, FILHO, POIS O VERDADEIRO DEUS VEIO PARA LHE MOSTRAR O
CAMINHO DAS FLORES!