sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

1964



Ainda os gemidos silenciados de 64
Orquestra de Marighellas em Salvador e N’outros lugares
Sem sombra, nem luz, nem brado retumbante
Só um microfone empoeirado, o suor que já secou, bandeiras desbotadas
meninos e meninas de boca torta – Orphans of the Revolution.

As grades dividem as glórias com a vala do esquecimento
O soldado chora seu passado de atrocidades institucionalizadas
Os companheiros exilados, compondo em outros idiomas

No, We can’t...
Ouve-se dos gabinetes do poder um sotaque Yankee 
E a vergonha tupiniquim esconde a verdade
As chibatadas, os sumiços, os estupros, os assassinatos, os 5 AI’s de medo e horror
Em arquivos sagrados, sangrentos - sepultados.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O INÍCIO, O FIM E AS CONTROVÉRSIAS


“NINGUÉM SE DESPEDE DE QUEM JAMAIS ENCONTROU”

Alguns cavalgam comigo entre as veredas dos meus sertões sempre tão úmidos a espera da flor que já nasceu. Nos campos jaz um míope que até bem pouco tempo se regozijava da sua disfunção óptica: “Ah, santa miopia, a mesma que me mantém em estado permanente de encantamento nos dias sofríveis de ausência, a que me faz meter a cabeça na janela a cada 10 minutos tentando evocar o Olho Mágico de Tandera da Espada sagrada de Lion, a fim de encontrar você depois do horizonte do medo e da incerteza, quem sabe nas minhas lentes bifocais; a miopia que me obriga a traçar uma rotina disciplinada para cercar a caixa de correio feita de madeira, suplicando por cartas que me sejam familiares; a miopia que me faz ver embaçado, cenários de sonho cor de rosa anuviado e que nos tira de uma percepção sem graça e insossa da vida”. Mas eis a realidade, rainha e patroa das nossas agruras e sorrisos, derrubando todo o castelo de areia que a cegueira dos sentidos tão melindrosamente ergue sob nossas cabeças. O Belchior já dizia: “Viver é melhor que sonhar...”. E assim é e pelo mestre fico deveras orientado a mudar. Por isso, obrigado pela cantoria em oito oitavas a qual me desperta antes do quinto ato, ó sinfonia das minhas melhores defesas, porque no final da tragédia grega contemplo solitário, indolente, indiferente e feliz ao espetáculo que se finda com sonoros aplausos que eu jamais escuto, mas satisfeito porque o começo e o fim são sempre tão cheios de pompa, tão cheios de substância, a mesma que falta durante todo o processo, e são sempre o desabrochar de alguma coisa que não entendemos agora, mas que está vindo, cavalgando ao longe para acompanhar a primavera. Oh, Deus! Obrigado! E como agradecer às minhas menininhas, as controvérsias, que são tão suas por força do uso e minhas por preferência, caminham tão somente pela estrada das verdades, contrariando a sua natureza ambígua. A ambigüidade grita alto ao que ela se propõe nos derrubando do décimo terceiro andar, corpo ao chão, cabeça doendo – ressaca de consciência. Só é dolorido, pois tudo se sabe desde o início. Nada mais real do que uma controvérsia vestida de rubro escarlate, escancarando o menor e mais desnecessários dos vícios – a mentira. É tudo tão elementar, coisa simplória, quase brincadeira de adolescente. Minhas meninas não trabalham no terreno da falsidade nem se utilizam de maquiagens, nem frescurites e firuletes. O melhor delas é que fazem patrulhamento de arte ruim, e por isso trabalharam com a promessa de que logo, logo o “contra” se separaria do “verso” e a poesia ficaria órfã do ritmo. E foi o que aconteceu naquela folha de papel. Nessa via crúcis nos procuramos e nos perdemos com pontas de estrofes que nunca se uniram e jamais se unirão. E para o RP das controvérsias fica aquela dança envergonhada e abortada no hall do enigmático prédio que contrastou com o show de hoje à noite, o perfume importado que se dissipa em meio ao cheiro estranho e amargo das grosserias e também a poesia que se perde em meio às lacunas abissais de um discurso que teima em não seguir o caminho do óbvio. Ninguém quer o sagrado, terreno do irreal e das fantasias de relicário. O que eu quero é muito mais próximo, eu quero a verdade das superficialidades do início ao início, um sorriso amarelado no final para quebrar o gelo e uma dose de pinga que arribe o pau do meu cavalo véi sertanejo.  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

UM MELADO DE PIEGUICE


“…It's hard to see with so many around

You know, I don't like being stuck in the crowd…”


Shed a tear 'cause I'm missing you...”.  – “Calma, alma minha”, foi tudo que eu disse hoje à tarde enquanto dirigia nesse nosso trânsito norueguês, ouvindo o Guns e lembrando-me das suas palavras desconectadas das atitudes. As mínimas, claro, porque das gerais você é mestre, my sweetheart. Eu só precisaria viver esse sentimento com sinceridade, ainda que ele esteja longe dos padrões convencionais do anti-pecado católico. Não precisa ser longo nem cheio de promessas, eu só não quero as mentiras, contento-me com as omissões. Por que não? Contudo, e como em todas as outras experiências, não encontro correspondências na intensidade da troca, isso mantem meu terreno intacto. As cognitudes construídas no imaginário coletivo acabam fazendo sucumbir a busca desesperada pela pureza e espontaneidade do gesto. Mãos que passam ao longe, olhos que caminham para o avesso dos meus, sorrisos forçados que geram mimos disformes... Então, calma, alma minha! “...just a little patience”. Sei que é difícil no meio de tantos caminhos mais fáceis e menos densos, pois também compreendo o peso das minhas palavras e sentimentos, mas atenta para o convite dos olhos, a dança dos toques, os lábios que te abocanham e  que esperam os seus no mais alto grau de devaneio e lascívia.

Enquanto esse nível ainda lhe é distante, “I sit here on the stairs... Cause I'd rather be alone...” e fico daqui tentando enxergar o sol que nunca se põe, as casas abandonas e as ruas sem ninguém, ouvindo as entranhas da minha alma sedenta de ti cantarem o single do Guns N’ Roses “...You and I'll just use a little patience.” Just a little patience... some more patience”, a fim de que eu possa sair ileso e pronto para os porvires do amanhecer.


And the streets don't change but, baby, the names

I ain't got time for the game

(Gotta have some patience, yeah)

'Cause I need you, yeah

Yeah, but I need you

(All it takes is patience, yeah)



    Patience