Não sei escrever, tenho apenas 16
anos, alguns lindos anos como seu amigo-confidente, mas acabei confundindo algumas coisas. Foi mal! Pedir desculpas
é difícil, ainda mais quando se trata das variáveis incertas do coração. Bom, difícil
mesmo é admitir uma traição. Os casais por aí traem, e maculam um pseudo amor
sustentado por convenções sociais. Pow, mas trair amizade já é demais, não está
em manual algum, não há lei, a execução é sumária, pelo menos a pena da
consciência é sentenciada no tribunal do travesseiro. E ela é implacável. Minha
penitência é a culpa. Traí a nossa amizade, tenho medo de não conseguir voltar atrás nessa coisa que vou falar logo mais. Desculpa, não sei escrever direito, não sou bom com as palavras. Eu nem sei se quero que você entenda, por isso permita-me ser ruim com textos. É uma linda conveniência. Talvez sejam
declarações tardias, mas quero que sejam apenas desculpas. Já tem três dias que
não me alimento direito, porque estava com tudo isso preso, mas vou terminar de
escrever aqui no diário da minha irmã. Ótimo lugar para se esconder algum segredo, a maninha é boa em não ler o próprio diário. Só tem porque as amigas que acham brega ser moderninha tem também, por isso usam papel e caneta para falar suas bobagens ao invés de teclados digitais. Ela quer se sentir parte de alguma coisa, ser aceita, veja só! Um dia quem sabe eu te mostre o que vem por agora.
Fome da peste que estou aqui!
Fome da peste que estou aqui!
Digo então o meu pecado. Passei três dias afim de você, minha amiga.
Pxii... foda né?! Apaixonadaaaaaçoo! Putz.. minha grande amiga! Eu sei, eu sei, não precisa dizer, não diga nada. Durante
essa eternidade de 72 horas me vi aflito por não conseguir ser seu amigo, e
apenas seu amigo. Veja só que bagunça, meu olhos me traíam porque olhava para
os seus desejando-os debruçados aos meus. Não olhava de frente, é claro. Não
conseguia. Fiquei puto por não conseguir, depois fiquei feliz de não ter
conseguido! Minha estúpida timidez, minha santa contradição! Veja só, minha
amiga, durante três dias, as pintinhas da sua face se transformaram numa parada
de charme quase irresistível para mim. Como alguém poderia ousar chamar de
forma depreciativa de "pintinhas ou manchinhas escurecidas". Nem se
encaixa, pois o que eu via eram a cútis de uma modelo internacional, a menina
mais linda do mundo, marcas da perfeição, a tentativa inútil da natureza por
alguma coisa ali fora de ordem. Uma gata!! O nariz, digamos, perfeito. A boca, aaaah, a boca... um oásis intocável e
impossível pra um guri como eu, aprendiz de vagabundo, um oásis onde eu delirei
matar minha sede. Foram três dias com uma sede que você não pode imaginar, que
não cabia no Oceano Atlântico. Você foi proteção de tela do meu Ipod, Iped,
tablet, Note e as porra. Que viagem! Isso é viadagem! Na escola eu não me
concentrei em nada além da minha própria imaginação. No baba, fui o pior, só
bola fora, fui para o chuveiro mais cedo. Em casa, teve "sound" repetido
à exaustão do Jorge e Matheus. Você acredita?? Do Jorge e Matheus?? Caraaaaaca,
muleke! Eu sou barril, véi! Pow, moro no Cabula, isso pega mal, tenho uma
reputação de miserê a zelar. Que nada!! Mais um babaca apaixonado, isso sim!!
Nem estou me reconhecendo, não me reconheci nesses três dias, mas sonhei em me
encontrar e me perder em você, no seu corpo, por horas, por dias, a vida toda...
vixe... o corpo... marcar minhas digitais em sua cintura, num movimento PAM,
seria como aquela jogada aos 45 do segundo tempo, onde você decide a partida e
seu time é campeão do Brasileirão, mas dizer o quanto eu te queria e ver seus
braços encontrando os meus, suas mãos trepadas nas minhas costas, em pressão,
no sentido oposto, atrativo ao seu, antes daquele beijo desejado, aí, minha
amiga, é GOL, É GOL, É GOL de final de Copa do Mundo em casa. Enfim... rs..
enfim... não foi assim. Os Campeões são sempre outros, tem outros sotaques,
gírias, dribles que desconsertam suas defesas. São outros que correm para o
abraço.E eu... jogo no banco.
Lembra... não viu nada de errado?
Eu sumi, não foi!? Aquela aula de sociologia que não apareci; aquele trabalho
em dupla que faria em sua casa, e eu inventei uma dor de dente; não cheguei nem
no último horário do metrô para retornamos pra casa, depois do treino;
silenciei zap zap, não curtir fotos do Insta... Lembra?? Não percebeu aquela minha impaciência anormal
com o seu choro, suas lágrimas geradas pelas dores produzidas por outros
"alguém"?? E são tantos, menina, você me conta sobre tantos, são
infinitos, brotam de qualquer lugar ao qual não pertenço, não nasci, não estou
talhado para estar e etc, e etc.
Desculpe por não poder ter sido
nada durante 3 dias. Não fui nem a realidade, nem a quimera. Desculpe se, por três dias, quando você sorria, o mundo inteiro se abria. Desculpe se aquele abraço fraternal no meio daquele bairro famoso me causou palpitações descompassadas. Desculpe pelo tesão que sentia a todo momento naquele encontro de sempre, no café com torradas no primeiro piso do shopping. Pois é, amiga, senti muito mais do que posso escrever aqui, e graças aos arcanjos do bom senso que não sei escrever. As outras coisas,
eu não sei dizer! Apenas me desculpe! A boa notícia é que acho que já estou quase apto a voltar a
te ver. Apareça pra um bate-papo mês que vem. Você sabe... Dinheiro muito eu não
tenho, mas as piadas estão na ponta da língua. Ah, agora chega disso, você sabe
que não sou bom com as palavras. Nossa prof. de redação é gente boa, mas ela é
muito gatinha, não dá para aprender redação com uma mulher tão gata!
Aceita um Big Tasty? Estou com
fome e o diário da minha irmã já foi!!