sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ALUCINAÇÃO MODERADA



Lembro do bote. A imensidão da morte. Um ente presente que dialoga com meu medo.
Falta oxigênio no meu cérebro, por isso não consigo conectar o pensamento, e aqueles que ouvem também não compreendem. Esse texto é o retrato da desconexão.
Não sei o que é pior, se o mar que deseja me tragar ou se o bote que vai desistindo de mim, ou se a lógica da sanidade que me abandona. 

- Os remos já se foram! A angústia é o meu panóptico, o vale do desconhecido.

Lambe as feridas - a humanidade desassistida. São os cosmopolitas no aeroporto do deputado. São os pedaços de uma terra chupada, onde moro, respiro, transpiro.
E fico! Não tenho espaço. Sou menos cosmopolita do que qualquer companheiro de boina e jaqueta. 

- Trás a palha, corto o aço. A carne fica e o corpo rejeita. Não sei o que é amor, nem me lembro de como é o orgasmo. Estou farto de experiências inúteis, bundas sem rosto e sobrenomes trocados. Sinto-me asfixiado. É o bote que já virou e a água que deseja me abraçar.
- Lembro do bote. A imensidão da morte. Um ente presente que dialoga com o meu destino.
O índio sorriu. O português entendeu. O negro fugiu. O Holandês se “fodeu”. O Operário ganhou terno elegante.
- O Patrão agradeceu.
Os cortiços caíram. O samba acabou. O português enriqueceu. A prostituta se casou. O lugar - aluga-se!
- Foi o início do Brasil. Foi o dia em que me reencontrei com o infinito do mar!

PANELAS SURDAS



Tentando ser didático: ( parte 1)


 - Nos últimos 20 anos, nenhum outro país do mundo praticou a taxa de juros que praticam aqui no Brasil. As empresas decidiram comprar títulos da dívida pública, ao invés de investir em produção. Se não há produção, não há emprego, não há crescimento econômico, não há riqueza. Pagamos quase 50 % de tudo que arrecadamos aos financiadores da dívida, os chamados rentistas. A taxa de lucro oferecido pelo Brasil é um oásis fiscal. São rentistas porque só vivem de renda, não batem um prego na barra de sabão, e não geram um único emprego. São os representantes da classe dominante.
Como não é mais possível aumentar impostos para diminuir a asfixia financeira do país, o governo, os políticos que também são financiados pelo capital dos rentistas, se esforçam para promover superávit fiscal, ou seja, enxugar os gastos públicos a tal ponto que gere excedente para enriquecer mais ainda os donos do capital, mesmo que para isso, eles tenham que cortar da vida (saúde), do futuro (educação), da dignidade (alimentação), da segurança pública, dos recursos para a iluminação do seu bairro, da grana para a merenda das crianças, do Bolsa Família, do programa habitacional, dos direitos do trabalhador, da previdência e etc.
Impressiona que ninguém discuta o desmonte de privilégios dos nossos congressistas; a bancada conservadora não concebe de maneira alguma a hipótese das "igrejas multimilionários de Cristo" pagarem algum tipo de imposto; ninguém discute o absurdo que é um pobre trabalhador brasileiro pagar a mesma alíquota de imposto de um Neymar ou de um Eike Batista; ninguém fala em reduzir os bilionários incentivos fiscais destinados a grandes multinacionais.
A PEC 241, por exemplo, é um atentado não só a Constituição. É sobretudo um golpe contra os mais necessitados deste país, porque são aqueles que de fato sobrevivem da atuação do Estado, que neste momento passa por um processo de desmonte. Ouço panelas surdas, vejo um povo anestesiado pelo pão e Circo dos órgãos de imprensa que prestam um serviço inestimável aos donos do capital.
O teto de gastos não atingiu a imprensa que nos últimos meses fez tantos negócios com o governo que já estão fora do vermelho; o judiciário, a categoria funcional mais cara do país, teve aumento substancial e excepcional em momento de crise; os bancos nunca deixam de bater recorde de lucro ano após ano. A corrupção é uma doença e mata o futuro! Ou seja, a torneira só fecha para o segmento mais frágil da sociedade.
Quero crer que a crise tenha emperrado, somente por hora, a produção da Tramontina. Ou então, vou lamentar a esquizofrenia em forma de ódio seletivo que tomou conta do país nos últimos anos, um traço marcante de ignorância útil, digna de pena.

(Rascunhando um preâmbulo)



Não me olhe com este tom de voz. Não me cheire com esta língua - líquida, insana, andarilha. Onde vais? Onde pensas que vais com este cheiro de desejo que me bebe pela manhã, e que não me concedes a misericórdia de um minuto de sossego, este hálito de madrugada, esta foda possuída, esta roupa de lua...?
Certo dia, tu foste embora, se retou com meu excesso de (a)normalidade, vestiu a canga da sacanagem, se rendeu ao “filha da putismo” de tudo que envelhece o olhar e cala a coragem. Este princípio da negação das vísceras, da carne e da libido, em nome de misericórdia. O nosso teatro em “50 tons” fecharam as portas, o canto dos aplausos de flautas doces, bailarinos do aqui e ali, foram banidos da “Casa dos Budas Ditosos”.
...
- Um traço irremediável do destino é o equilíbrio, após a catarse. São nossos ritos de passagem!! Mas isso jamais nos serviu - alvenaria de um mundo em decadência!
...
Volta, pois nosso pecado já foi absolvido por todos os arcanjos da poesia. A mesma que assassinou a baeta cristã que vive do dinheiro do apocalipse, que se masturba do medo daquele amanhã que teima em não nos convidar, e que se refastela com os níqueis dos recém-aprisionados.
Danem-se a moral, os bons costumes e os sinais da caretice do tempo, e vem me assaltar de mim, na madrugada de hoje! 

- O público nos espera...