segunda-feira, 27 de julho de 2015

AFF, DEUS ME LIVRE






Deus que me livre da crueldade dos meus chegados, pois bem sabe Ele que os corações que me oferecem, há espinhos de ativação seletiva, cujas feridas provocadas em mim doeriam pra chuchu. Bem sei eu.
Deus que me livre de seguir como um boi o sacro santo dogma da ditadura da felicidade blasé. Aff... ninguém pode se considerar livre acordando todos os dias para buscar esse "sol que está sempre se pondo", como vemos nos anúncios do mundo publicitário. Antes, aprecie a caminhada despretensiosa dos encontros do acaso, é nela que as coisas ganham algum significado. Permita-se aos aromas, aos gostos diversos, experimente uma fossa, uma torta ou tequila... é bem por aí!
Deus me livre de taças, talheres, toalhas e copos arrumadinhos no jantar, e café frio pela manhã.
Deus me livre de perder o meu sono vendo a seleção brasileira. Tudo bem, confesso que o grito de gol do meu filho, e o tal "cabelo de Neymar" que ele tenta fazer com a espuma do Shampoo é um negócio impagável.
Deus me livre de passar uma noite se quer sem o colo, o dengo, o chamego da minha menina.
Deus que me livre de votar no PMDB. aff.. por favor! Por favor!!
Deus me livre da morte em vida, incerta, sofrida, Severina.
Deus que me livre da violência permitida em nome do prazer individual a qualquer custo, esta que esmerilha o coração do outro sob aplausos de uma plateia de "voyers", ávidos de prazer em presenciar de camarote o seu olhar desorientado que traduz uma alma em pedaços. Ninguém te abraça e ninguém te consola porque esses gestos sugerem injustiças, mas veja, caro senhor, estamos falando de uma violência permitida, às custas da impotência de suas lágrimas silenciosas. Qualquer voz de protesto será um grito ecoando num vale de lamentos ininteligíveis e serás taxado de louco. Faz parte do jogo ser violentado quando se sai de cena. Deus me livre! Deus que me livre! As peças desse tabuleiro me causam assombro, pois as regras estão tão sob o domínio do outro quanto disponíveis a mim, e elas devastam histórias pregressas, desconsideram qualquer afeição que se tenha a quem um dia já foi seu único porto seguro, nesse mar de solidões acompanhadas e muvucas sem rosto, onde os atalhos para uma felicidade inventada são o único caminho que não desejo seguir, tampouco ser vítima. Aff... Deus me livre!
Deus que me livre da maldade dos que me amam. Que a gente sempre se reconheça pela pupila.
Deus me livre de mim que detenho uma penca de chaves que abrem uma quantidade limitada de portas que não sei onde dão e que tenho à frente um espelho a me desfigurar toda vez que ouso lançar qualquer julgamento sobre o meu presente, passado ou futuro.
Ah, tenho medo de tanta coisa, a madrugada é curta, e o bule do café já vai "pro" fogo!

Bom dia!!