sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

1964



Ainda os gemidos silenciados de 64
Orquestra de Marighellas em Salvador e N’outros lugares
Sem sombra, nem luz, nem brado retumbante
Só um microfone empoeirado, o suor que já secou, bandeiras desbotadas
meninos e meninas de boca torta – Orphans of the Revolution.

As grades dividem as glórias com a vala do esquecimento
O soldado chora seu passado de atrocidades institucionalizadas
Os companheiros exilados, compondo em outros idiomas

No, We can’t...
Ouve-se dos gabinetes do poder um sotaque Yankee 
E a vergonha tupiniquim esconde a verdade
As chibatadas, os sumiços, os estupros, os assassinatos, os 5 AI’s de medo e horror
Em arquivos sagrados, sangrentos - sepultados.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O INÍCIO, O FIM E AS CONTROVÉRSIAS


“NINGUÉM SE DESPEDE DE QUEM JAMAIS ENCONTROU”

Alguns cavalgam comigo entre as veredas dos meus sertões sempre tão úmidos a espera da flor que já nasceu. Nos campos jaz um míope que até bem pouco tempo se regozijava da sua disfunção óptica: “Ah, santa miopia, a mesma que me mantém em estado permanente de encantamento nos dias sofríveis de ausência, a que me faz meter a cabeça na janela a cada 10 minutos tentando evocar o Olho Mágico de Tandera da Espada sagrada de Lion, a fim de encontrar você depois do horizonte do medo e da incerteza, quem sabe nas minhas lentes bifocais; a miopia que me obriga a traçar uma rotina disciplinada para cercar a caixa de correio feita de madeira, suplicando por cartas que me sejam familiares; a miopia que me faz ver embaçado, cenários de sonho cor de rosa anuviado e que nos tira de uma percepção sem graça e insossa da vida”. Mas eis a realidade, rainha e patroa das nossas agruras e sorrisos, derrubando todo o castelo de areia que a cegueira dos sentidos tão melindrosamente ergue sob nossas cabeças. O Belchior já dizia: “Viver é melhor que sonhar...”. E assim é e pelo mestre fico deveras orientado a mudar. Por isso, obrigado pela cantoria em oito oitavas a qual me desperta antes do quinto ato, ó sinfonia das minhas melhores defesas, porque no final da tragédia grega contemplo solitário, indolente, indiferente e feliz ao espetáculo que se finda com sonoros aplausos que eu jamais escuto, mas satisfeito porque o começo e o fim são sempre tão cheios de pompa, tão cheios de substância, a mesma que falta durante todo o processo, e são sempre o desabrochar de alguma coisa que não entendemos agora, mas que está vindo, cavalgando ao longe para acompanhar a primavera. Oh, Deus! Obrigado! E como agradecer às minhas menininhas, as controvérsias, que são tão suas por força do uso e minhas por preferência, caminham tão somente pela estrada das verdades, contrariando a sua natureza ambígua. A ambigüidade grita alto ao que ela se propõe nos derrubando do décimo terceiro andar, corpo ao chão, cabeça doendo – ressaca de consciência. Só é dolorido, pois tudo se sabe desde o início. Nada mais real do que uma controvérsia vestida de rubro escarlate, escancarando o menor e mais desnecessários dos vícios – a mentira. É tudo tão elementar, coisa simplória, quase brincadeira de adolescente. Minhas meninas não trabalham no terreno da falsidade nem se utilizam de maquiagens, nem frescurites e firuletes. O melhor delas é que fazem patrulhamento de arte ruim, e por isso trabalharam com a promessa de que logo, logo o “contra” se separaria do “verso” e a poesia ficaria órfã do ritmo. E foi o que aconteceu naquela folha de papel. Nessa via crúcis nos procuramos e nos perdemos com pontas de estrofes que nunca se uniram e jamais se unirão. E para o RP das controvérsias fica aquela dança envergonhada e abortada no hall do enigmático prédio que contrastou com o show de hoje à noite, o perfume importado que se dissipa em meio ao cheiro estranho e amargo das grosserias e também a poesia que se perde em meio às lacunas abissais de um discurso que teima em não seguir o caminho do óbvio. Ninguém quer o sagrado, terreno do irreal e das fantasias de relicário. O que eu quero é muito mais próximo, eu quero a verdade das superficialidades do início ao início, um sorriso amarelado no final para quebrar o gelo e uma dose de pinga que arribe o pau do meu cavalo véi sertanejo.  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

UM MELADO DE PIEGUICE


“…It's hard to see with so many around

You know, I don't like being stuck in the crowd…”


Shed a tear 'cause I'm missing you...”.  – “Calma, alma minha”, foi tudo que eu disse hoje à tarde enquanto dirigia nesse nosso trânsito norueguês, ouvindo o Guns e lembrando-me das suas palavras desconectadas das atitudes. As mínimas, claro, porque das gerais você é mestre, my sweetheart. Eu só precisaria viver esse sentimento com sinceridade, ainda que ele esteja longe dos padrões convencionais do anti-pecado católico. Não precisa ser longo nem cheio de promessas, eu só não quero as mentiras, contento-me com as omissões. Por que não? Contudo, e como em todas as outras experiências, não encontro correspondências na intensidade da troca, isso mantem meu terreno intacto. As cognitudes construídas no imaginário coletivo acabam fazendo sucumbir a busca desesperada pela pureza e espontaneidade do gesto. Mãos que passam ao longe, olhos que caminham para o avesso dos meus, sorrisos forçados que geram mimos disformes... Então, calma, alma minha! “...just a little patience”. Sei que é difícil no meio de tantos caminhos mais fáceis e menos densos, pois também compreendo o peso das minhas palavras e sentimentos, mas atenta para o convite dos olhos, a dança dos toques, os lábios que te abocanham e  que esperam os seus no mais alto grau de devaneio e lascívia.

Enquanto esse nível ainda lhe é distante, “I sit here on the stairs... Cause I'd rather be alone...” e fico daqui tentando enxergar o sol que nunca se põe, as casas abandonas e as ruas sem ninguém, ouvindo as entranhas da minha alma sedenta de ti cantarem o single do Guns N’ Roses “...You and I'll just use a little patience.” Just a little patience... some more patience”, a fim de que eu possa sair ileso e pronto para os porvires do amanhecer.


And the streets don't change but, baby, the names

I ain't got time for the game

(Gotta have some patience, yeah)

'Cause I need you, yeah

Yeah, but I need you

(All it takes is patience, yeah)



    Patience

terça-feira, 20 de novembro de 2012

AGRADECIMENTOS


Caramba!! Festa surpresa do povo do trabalho! Quase morro! Aqui vai meu sucinto agradecimento coletivo aos que mais uma vez me lembraram que timidez não tem cura e que eu sou muito feliz com todo mundo que me rodeia. Valeu mesmo, gente! 

Eu estava tão desligado o dia inteiro e de repente vi tanta gente que tentou fazer um teste pra cardíaco em mim e que graças a Deus faz parte do meu dia a dia de trabalho. Pessoas admiráveis, amigos inesperados, sorrisos largados, carinho gratuito e desmedido, tão essenciais, meu Deus, só eu sei o quanto! Minha incompletude me compele quase que diariamente a sugar de todos vocês a característica mais aparente de cada um, a fim de que eu possa me tornar um carinha melhor, por isso é imprescindível incorporar todos os dias o talento do famigerado Joceval e suas incomparáveis performances no rala cueca do Empório e no swingão dos feriadões “gospel”;  a competência fina e sutil da Caroline, que como uma esgrimista oriental alia precisão e sutilezas letais no combate implacável aos erros e distorções de toda ordem;  o olhar humano da Ana Gabriela em sua maestria da persuasão absoluta, comandante de uma Coordenação que só tem fera; o companheirismo louco de um bando corintiano de um homem só, Gláucio, o justiceiro fantasma parte III; o sentido de defesa dos meus comparsas inseparáveis, Sandro Dantas, Carlos Alberto, Sandra Maciel, Adaltro Miranda, Ricardo Naster, Dale Filho e Humberto Carapiá que juntos formamos uma verdadeira esfinge espartana de Serviços Gerais, bloqueando até pensamento – livrai-nos sempre de todo mal. Amém; o sorriso largo e a consciência política das figuras Celso e Cilmo que distribuem simpatia e carisma, arrasando pelos corredores do MP, deixando as “mina tudo” descontroladas;  a sorte do invejável Luis Carlos assessorado por nada mais, nada menos que as sensuais Paula e Fernanda, uma duplinha de gente muito fina - danadinhas; o comprometimento da minha chefinha querida Amália Franco e suas meninas super poderosas da COOFIN que de Vera a Michela pode-se sempre esperar as melhores resenhas - impagáveis; A gentileza e educação do pacato Carlos e sua atenciosa preocupação com o próximo; a amizade descomprometida de Rafael; a amabilidade da minha doce Nice da DA; a ironia fina de Aroldo; a coerência de “Xandinho Moita”; a camaradagem diuturna de Leonardo Ojuara; o olhar sempre atento do Paúca da Bahia e do Baêa; o sangue nas veias, temperamento incomum e a excentricidade de Waneska – vizinha e parceira das melhores ocasiões, aqui representando toda a turma dos legais, como Carluse; a capacidade de integração do perigoso Miguel e da encantadora Gabriela; a energia e a predisposição para metamorfosear ambientes hostis das minhas gatíssimas irmãs Tatiana e Daniela Monteiro; a disponibilidade atenta dos importantíssimos Josman e Maria Rita; a personalidade faiscante da simpaticíssima Mônica; o infinito bom humor do grande Mário; a didática de Bruno do Patrimônio; vixe... dois metros avassaladores da Nandinha Quadros; a gentileza, educação, graça e suavidade das meninas da C. de Suprimentos; a força e o sentido de perfeccionismo da Sra Veralúcia que nos obriga sem saber a fazer um curso de reciclagem por quinzena, para tentar minimizar os inúmeros Feedbacks de críticas construtivas direcionadas ao setor (sem risada. É sério), meu Deus, sem falar em Ila Fidalgo, quase uma irmã mais velha a quem eu francamente admiro até o dedão do pé, uma vez que no mundo não há o que ela não consiga; aos ensinamentos de Heide que de uma lição a outra me levou a conhecer Maria Clara e hoje compartilhamos juntos duzentas mil diferenças engrandecedoras e afinidades inesperadas para minha surpresa e alegria; e por fim a resiliência e resignação dos funcionários terceirizados que me lembram a todo o instante de que sorrir e ser feliz não precisa necessariamente andar de mãos dadas com a grana.

A todos vocês, meu muito obrigado. Isso jamais aconteceu nos meus inúmeros empregos e andanças nas veredas da escravidão, por isso já chega. Papai não agüenta!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

POLÍTICA PÓS ELEIÇÃO

O soteropolitano colocou no poder um burguês criado em playground de Ondina, área nobre de Salvador, filho de uma das Oligarquias mais perversas da história da Bahia. Por isso não é estranho ler que o Neto votou "recentemente" contra os professores. Normal!! Estranho seria se ele defendesse!! Nunca foi da laia do Avô dele nem do seu partido defender professor, policial, cuidadoras do lar ou outras profissões tão injustiçadas quanto!! Normal! O que me é realmente estranho é ver meu outrora partido do coração viver em promiscuidades políticas, sorrisos amarelos e tapinha nas costas de companheiro ladrão e incompetente... é ver o presidente que um dia estampou a minha bandeira de guerra e que ainda nutro alguma admiração apertar as mãos manchadas de pólvora e sangue do José Sarney; paralisou-me a alma ver um partido que nasceu das lutas históricas em defesa dos mais humildes assaltar de forma vil os cofres públicos, criando o maior esquema de corrupção de que se tem notícia (de que se tem notícia, viu?! rs); Estarreceu-me acompanhar o meu governador, que chorei ao ver vencer o Paulo Souto (eu acho), dar um show de incompetência no trato de greve com classes tão injustiçadas historicamente, como policias e professores, as quais ele mesmo se utilizou durante o período eleitoral do primeiro mandato para vencer em 1º turno; horrorizei-me ao acompanhar as vergonhosas votações na Assembléia, logo ali no Centro Administrativo da Bahia, em que empréstimos milionários foram votados para o governo do estado, sem que no teor do projeto contenha a sua destinação. Até um anti-projeto secundarista para Feira de Ciências tem por obrigação conter objetivos gerais e específicos. Um assalto aos cofres públicos, legitimado por deputados calangos que só balançam a cabeça pra o lado que o Governador ordena. Olha.. não é ignorância política não! Eu vi! Paro por aqui porque se eu for falar no situação da saúde, da educação e da violência (bandeiras do PT da primeira hora) aí não há Facebook que me suporte e vai parecer uma defesa ao detestável Acm Neto, que irá me surpreender se alguma outra vez na vida passar pelas sofríveis vielas de Cajazeiras, Narandiba e Periperi! Essa ladainha foi para dizer que estranho não é o ACM votar contra professores, é o PT votar contra o povo... e acabar perdendo as eleições da terceira maior capital do pais para ele mesmo!! Lastimável!! Vigiai, senhores, vigiai!! 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A MELHOR TÁTICA

O sorriso é minha primeira trincheira de guerra!! Desmonto seu ataque no carinho, no talento e na aproximação. Torno-me vulnerável, contudo você paralisa. No jeito ninguém pode comigo. Tente me fazer mal, mas o faça de longe porque de perto você corre o risco de, no mínimo, simpatizar comigo ou me devolver o sorriso! Mesmo sem palavras, seu próximo passo é me pedir desculpas, ainda que pela aflição dos olhos inquietos e o meu é te chamar pra beber uma cerveja. Ah... que doce guerra! Venci!

ANTES DAS ELEIÇÕES DE SALVADOR

A análise das eleições é sempre tendenciosa. Falam que vão votar no 25 porque o candidato do PT faz parte de um time de ladrões (fato). É estranho! rs... pergunto-me se o ACM Neto do DEM faz parte do time dos mocinhos. Olha-se para Pelegrino e lembra-se do partido que assalta cofres públicos e promove absurdos arrochos salariais ao funcionalismo. Olha-se para Neto e exclui-se o passado de atrocida
des públicas e sigilosas do DEM, antigo PFL, partido conjugado à ditadura militar, partido de coronel, partido de espancador de estudantes de todos os níveis, partido de Oligarquias históricas, torturas, roubos, extorsões,  perseguições, desaparecimentos e mortes. Não seria melhor a gente admitir que nossa análise é parcial e míope do que sair por aí dizendo que não votamos no PT (coletivo), mas sim no ACM (individual), como se estas eleições fossem de um partido contra um candidato? A luta do bem contra o mal. Oh coisa mais antiga, meu Deus! Maniqueísmo em pleno século XXI. A luta do bem contra o mal. Nem as tendenciosas novelas globais estão mais assim. Pense aí! ACM Neto versus PT!! Façam suas apostas e que Deus nos abençoe.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O PRAZER DA SUBMISSÃO


Deixa-me ser fraco enquanto te marco
Minhas digitais e os meu segredos indizíveis
Só falam em estado de fúria e carne viva

Conceda-me o prazer de ser sua guerra necessária
Atacar pelos flancos
Surpreender a frieza de suas defesas polares

Torna-me concha e escuta com os ouvidos dos sonhos
As pérolas - sua cama
O amanhã -  seus corais

Aceita a mágica que transpassa a lágrima
Em que a dor subjuga o corpo ao inferno necessário de toda Phênix
E renasça em chamas reluzentes para iluminar as trevas em mim.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O ÚLTIMO DESAFIO


Em um antigo monastério de um bairro pacato no interior da Itália, um seminarista postulante a padre se via às voltas com um amor proibido e as regras de conduta de um tio muito ranzinza que o havia criado dentro do mais absoluto ortodoxismo católico. O jovem fora submetido, com êxito, a desafios diversos para provar sua total devoção à vida religiosa, a fim de estar apto a receber a benção suprema do curso eclesiástico ministrado pelo próprio tio.  Depois de anos de estudos e treinamentos, o candidato a padre bateu a porta dos aposentos do velho mestre e disse:

- Acho que já estou pronto para ser ordenado padre da Igreja da Luz. Ministrei pontualmente todas as missas agendadas da semana, abençoei as dispendiosas obras de caridade da comunidade com as generosas ofertas dos fiéis e o mais difícil para mim foi negligenciar em definitivo o demoníaco amor pela Carminha, sentimento que me acompanha e desarranja desde que minhas retinas se viram perdidas em encantamento pela Carmen Lúcia nos jardins da igreja, tudo em nome do ordenado e em respeito a tudo que me ensinaste sobre responsabilidade com as coisas de Deus. Espero que o Senhor esteja orgulhoso de mim! Não há mais nada a aprender.

O velho sorriu e olhou para o jovem seminarista com uma ternura incomum, jamais vista em tempos de duro treinamento e disciplina. Ele tinha a bíblia aberta nas páginas do Decágono, quando falou:

- Enfim foste testado, meu garoto! Ansiei temerosamente por este dia. O dia em que foste testado pelo coração. Deus faz as revelações ao seu tempo. Mandou um anjo sem asas para te dar o último dos ensinamentos. Fico orgulhoso em ter um aluno tão dedicado e zeloso, mas sem pesar e com alegria no coração vos digo que não sereis mais padre.

O sobrinho se prostrou de joelhos perante o tutor e beijando-lhe as mãos continuou:

- Amado Tio, não digas isso, o senhor me ensinou que Deus é a verdade e a vida. Ele é tudo para mim agora. Oh, mestre, o que pensarás Deus de mim se eu o trocar por um sentimento bobo de criança nascido entre as rosas e hortaliças, em noites frias de inverno da Igreja da Luz? Como posso não ter aprendido o caminho correto, se o que escolhi foi renegar o mundo em nome do PAI de Todos? O que fiz de errado?

- Simples, amado!  Vós não entendestes o décimo primeiro mandamento, sem o qual todos os outros não tem a menor importância.

Fechando a bíblia, o velho do monastério respirou fundo e olhou para o seu pupilo com  olhos de adeus, dizendo por fim:

- SEJAS FELIZ, FILHO, POIS O VERDADEIRO DEUS VEIO PARA LHE MOSTRAR O CAMINHO DAS FLORES!

domingo, 24 de junho de 2012

CEGUEIRA

Ah, mundo, por que me obrigas a vê-lo com olhos tão viciados, quando o que se quer, assim como as criancinhas, é manter o eterno deslubramento diante das pequenas coisas do cotidiano. Quero olhar e não entender, despir-me dos preconceitos que nos afastam de uma nova perspectiva de vida... Olhar e bloquear a ação dos conceitos frios que foram construídos apenas para nos manter na letargia de uma realidade estática, insossa e sem graça.  Ah, mundo, quem me dera me desfazer das roupas que meus olhos me vestiram e sair por aí sorrindo em ironia como um bêbado que descobriu como enganar a tristeza no fundo de um copo de cachaça. Ah, mundo, você não viu nada!!! rs

terça-feira, 19 de junho de 2012

TRISTEZA AGUDA...

     Não me lembrava, mas na fragilidade o choro é mais do que bem vindo. É um momento em que, de camarote, a gente se assiste mais humano, menos arrogante e todo poderoso. Hoje chorei e a única coisa que me ocorreu foi uma voz bem lá no fundo do poço das amarguras recalcadas,  dizendo-me: 

"- Queria tomar café todos os dias pela manhã com minha razão, dar um tempo com o coração e dormir abraçado à felicidade, sem vendas, sem invenções e sem dores". 

     Nada parece ser tão revelador a nós mesmos quanto o descarrego silencioso e solitário da consciência. Somos sempre o maior dos nossos algozes mais julgadores. Esta experiência me fez passar mais rente a mim, destituído de defesas e com mais liberdade de me olhar e me reconhecer estranhamente infeliz. 
          
      Quem sabe o exame detalhado e sincero da consciência seja o caminho!! As lágrimas sejam só o começo! Amanhã é outro dia e talvez numa esquina qualquer eu possa tomar um chá de mãos dadas com a alegria.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A PROCURA DA ORDEM


As expressões destoam da linguagem. Pupilas perdidas retalham o sonho de outrora. E as palavras nada podem perante a onipresença da frieza. A perspectiva desenha sua imagem engessada. O músculo engessado. Talvez a ausência do músculo supremo. Tu me mostraste as mesmas imagens de fotos de um tempo onde éramos desconhecidos. A carne sangra as minhas súplicas e você chora o seu desdém. Nada como o desdém diante de súplicas, quando o objetivo é tão somente me manter ali, inerte na minha perplexidade covarde. Eu... que sou a razão do seu desequilíbrio ou nem isso.

Do alto de um prédio de 13 andares me grito em frases desarranjadas, tão confusas quanto meu desatino:

“Meu olhar flagrante te arrebata no instante do golpe de misericórdia.
O soco projetado no estômago das desilusões. Os olhos fechados. Ninguém pra ver.
A perda dos miúdos e das miudezas que eram a argamassa do meu castelo.
Agora me encolho fustigado no porão do adeus.
No vácuo escuro do esquecimento.
Não existe sua voz, nem a lascívia que me enobrecia.
Tentando te encontrar, me perdi.
Não há um só vestígio daquele cântico em versos nas escrituras proibidas.
Nem o bailar do seu vestido rupestre nas tardes da Fazenda do Equilibro.
A vida me parece tão exata agora. Que pena...”

Na horta do prédio, parte dos fundos,  debaixo de uma palha de bananeira, deparo-me com versos redondos. E eles diziam:

Teu olhar flagrante espreita o engano
Os pés descalços, os lados parados, os equívocos escancarados.
...
Pxii, Escuta...
Cala-te, menino, para que possas ouvir...
...
As retinas sem peso
Revelam o golpe que não é golpe
São apenas seus destemperos e minhas agonias ininteligíveis

Hoje uma vida; a dose certa do equívoco
Mas, por certo, O dragão hei de aniquilar

Amanhã, ainda recolhendo os cacos
Varrerei o chão da fortaleza em mim

Renascerei de pé para dormir sem sentir
E calar para no fim, oh alma inquieta...
Poder ouvir os passarinhos.

Não há santidade sem peregrinação.
Ass. A.M.

terça-feira, 29 de maio de 2012

PARENTESES


Sem sacanagem... Eu sinceramente não sei o porquê das classes pseudo intelectualizadas deste país falarem tão mal da Venezuela do H.C.. Não compreendo mesmo, sob quase nenhum aspecto que valha a pena entender. Dizem que a economia (bicho esquisito pra caralho) tá lascada e que o Brasil caminha para ter a 5ª do mundo. Entretanto minha mente entra em parafuso quando olho minha conta bancária, quando peço 50 reais de gasolina na segunda e na quarta começo a andar na banguela, quando olho para nossa jornada de trabalho, quando penso na educação, saúde, moradia... inclusive quando analiso o fator "imprensa livre" - Liberdade de expressão... vixe... sei não!!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

AS LÁGRIMAS NÃO FAZIAM PARTE DO ACORDO


Ps. Diário do garoto Johan encontrado por estudantes de geologia no devastado bosque do PARALELA’S GARDEN 

“Os olhos viram e as mãos amassaram o bilhete de despedida, jogada abruptamente ao cesto de lixo na tentativa vã e desesperada de enterrar para sempre o tortuoso crime ou quem sabe escamotear um sentimento destinado ao fim desde a sua gestação. Um papel que tinha o cheiro da dor e da despedida. Ah.. quão longas foram aquelas frases de ADEUS daquela que me dera o meu primeiro beijo aqui do alto dos meus dezessete mal vividos. Longas e especiais foram nossas escapadelas rumo ao Bosque Paralela Garden. Foi lá que já perdidos, tentamos nos achar e quase nos perdemos de vez. Entregamos-nos num labirinto de árvores e flores que demoradamente íamos buscando cultivar em cada área vazia, sem cor e sem vida. Não havia placas, nem regras. Quando entramos ali, estávamos decididos a andar para frente, sem olhar para trás, a fim de ficarmos longe da dor. Conseguimos? NÃO. – TALVEZ por algum tempo. Sabia que não havia saída dali, e eu nem queria que houvesse. Equivoquei-me a pensar que estaríamos destinados a nunca mais deixar aquele exótico Bosque Paralela.  Mas você se foi, companheira, e deixou para trás os jasmins, as roseiras e as folhas de chá que esquentavam a alma em dias de frio. Em letras miúdas as frases foram mutilando o sonho e a fantasia, me resgatando a contragosto para o mundo real. Só doeu porque sabíamos nós que a vida real, diria Abujamra, é uma espécie de “causa perdida”, sem graça e sem poesia. Mas não ali, querida. Não em nosso Bosque, onde até os anjos lavariam os pés antes de violá-lo.

- Diga-me vós, enigmática lua, quantos primeiros beijos um adolescente português sentimental pode dar e receber ao longo da vida, sem que haja maiores desdobramentos sentimentais? Não sei... poucos?!!

- Por que foste embora querida, se nossos beijos ali se multiplicam na medida do desejo e da loucura? INTERMINÁVEIS!

Com a Lohana todo beijo é (fora) o primeiro.  Oh, pobre e traiçoeiro coração que não entende as necessidades do corpo, quando ao contrário busca conquistar aquilo que nunca esteve lá para ser conquistado, procurando o sublime na calada da noite, sem barulhos ou estardalhaços. Envolve-nos no mistério e nos deixa reféns do acaso. Agora eu sei! Sei que os Bosques não são encantados, os amores quem os são.

- Como pode o lápis e o papel se deixarem usar para o doloroso ADEUS, uma vez que já foram testemunhas dos amores mais sublimes e mais deliciosamente sacanas?

“Querido Johan,

Queria lhe dizer isso que vou dizer agora pessoalmente, mas acho que não tenho coragem... me deixar envolver por você foi uma das melhore coisas que me aconteceu nos últimos tempos. Me senti linda, querida, desejada... mas não posso continuar...  não me force a lhe dar explicações.. você jamais entenderia.

ADEUS!
  
Nunca me esquecerei das cavalgadas nas tardes de terça, nos labirintos infinitos do nosso Bosque Paralela Garden.

ADEUS, JO

Ass. EU”

As lágrimas que rolaram na face não foram mais volumosas do que aquelas enfiadas goela abaixo naquela tarde de quinta. ELAS NÃO FAZIAM PARTE DO ACORDO. Cada palavra sangrada naquele bilhete ficará guardada, solitária, no baú do esquecimento. Vou levar comigo apenas o sorriso fácil e bobo daquelas tardes chuvosas de maio, o cheiro das flores do Bosque, nossos abraços, as conversas proibidas e o carinho que engrandeceu o homem por detrás do menino. Para finalizar, guardarei um pouco de dor para me lembrar de respeitar as promessas feitas, a decisão tomada, o caminho seguido.
Um beijo carinhoso, my honey,
do seu, pra sempre seu...

JOHAN”

“And I'd give up forever to touch you”
Goo Goo Dolls

P.S. Há informações de que o diário foi encontrado pela metade. Suspeita-se que parte significativa do seu conteúdo tenha sido levado e que o jovem Johan não escrevia sozinho. Será? Uma editora pouco conhecida no Nordeste de Portugal acredita que encontrará as páginas que faltam para publicações posteriores. Muitas lacunas ficaram. Não se sabe de onde vieram e de que forma se iniciou a relação do romântico Johan e sua enigmática Lohana. Não se sabe se o tal Bosque Paralela Garden é real ou fruto de um delírio criativo.Quem é Lohana? Qual a origem dos seus conflitos? Quem é Johan? Por que seu diário teve suas páginas arrancadas? O que querem esconder? Perguntas que talvez estejam sepultadas para sempre no imaginário das crianças que brincaram no místico Bosque Paralela.

Atenciosamente

A.M.

SÓ A DOIS


Entorpecente é a dança dos lábios
Na espreita, as bocas em paralelo
Aquela que chega, a outra que finge sair, mas não sai
O frenesi do acontecimento protelado

Os rostos se roçam, os narizes se empurram, os olhos se debatem
Não se encaixam
A demora faz o prazer do inevitável encontro

Suplico pelo fim
Os olhos se fixam
Derrotados

As bocas entreabertas se convidam para o baile
Eu de terno e gravata sou apenas o expectador e o premiado
Enquanto no salão você estende o tapete vermelho
E me oferece o melhor dos vícios
Aquele beijo

segunda-feira, 21 de maio de 2012

SINFONIA


Ah, querida,

Tu és a orquestra regida em versos dos mais adorados poetas

A Rosa em devoção do Pixinguinha

 A “menina dos olhos” do Chico 

As notas caladas dos amores e seus segredos 

As trovas e os versos

A música em mim.