“NINGUÉM SE DESPEDE DE QUEM JAMAIS
ENCONTROU”
Alguns
cavalgam comigo entre as veredas dos meus sertões sempre tão úmidos a espera da
flor que já nasceu. Nos campos jaz um míope que até bem pouco tempo se
regozijava da sua disfunção óptica: “Ah, santa miopia, a mesma que me mantém em
estado permanente de encantamento nos dias sofríveis de ausência, a que me faz
meter a cabeça na janela a cada 10 minutos tentando evocar o Olho Mágico de
Tandera da Espada sagrada de Lion, a fim de encontrar você depois do horizonte
do medo e da incerteza, quem sabe nas minhas lentes bifocais; a miopia que me
obriga a traçar uma rotina disciplinada para cercar a caixa de correio feita de
madeira, suplicando por cartas que me sejam familiares; a miopia que me faz ver
embaçado, cenários de sonho cor de rosa anuviado e que nos tira de uma
percepção sem graça e insossa da vida”. Mas eis a realidade, rainha e patroa
das nossas agruras e sorrisos, derrubando todo o castelo de areia que a
cegueira dos sentidos tão melindrosamente ergue sob nossas cabeças. O Belchior
já dizia: “Viver é melhor que sonhar...”. E assim é e pelo mestre fico deveras
orientado a mudar. Por isso, obrigado pela cantoria em oito oitavas a qual me
desperta antes do quinto ato, ó sinfonia das minhas melhores defesas, porque no
final da tragédia grega contemplo solitário, indolente, indiferente e feliz ao
espetáculo que se finda com sonoros aplausos que eu jamais escuto, mas
satisfeito porque o começo e o fim são sempre tão cheios de pompa, tão cheios
de substância, a mesma que falta durante todo o processo, e são sempre o desabrochar
de alguma coisa que não entendemos agora, mas que está vindo, cavalgando ao
longe para acompanhar a primavera. Oh, Deus! Obrigado! E como agradecer às
minhas menininhas, as controvérsias, que são tão suas por força do uso e minhas
por preferência, caminham tão somente pela estrada das verdades, contrariando a
sua natureza ambígua. A ambigüidade grita alto ao que ela se propõe nos
derrubando do décimo terceiro andar, corpo ao chão, cabeça doendo – ressaca de
consciência. Só é dolorido, pois tudo se sabe desde o início. Nada mais real do
que uma controvérsia vestida de rubro escarlate, escancarando o menor e mais
desnecessários dos vícios – a mentira. É tudo tão elementar, coisa simplória,
quase brincadeira de adolescente. Minhas meninas não trabalham no terreno da
falsidade nem se utilizam de maquiagens, nem frescurites e firuletes. O melhor
delas é que fazem patrulhamento de arte ruim, e por isso trabalharam com a
promessa de que logo, logo o “contra” se separaria do “verso” e a poesia ficaria
órfã do ritmo. E foi o que aconteceu naquela folha de papel. Nessa via crúcis nos
procuramos e nos perdemos com pontas de estrofes que nunca se uniram e jamais
se unirão. E para o RP das controvérsias fica aquela dança envergonhada e
abortada no hall do enigmático prédio que contrastou com o show de hoje à noite,
o perfume importado que se dissipa em meio ao cheiro estranho e amargo das
grosserias e também a poesia que se perde em meio às lacunas abissais de um
discurso que teima em não seguir o caminho do óbvio. Ninguém quer o sagrado,
terreno do irreal e das fantasias de relicário. O que eu quero é muito mais próximo,
eu quero a verdade das superficialidades do início ao início, um sorriso
amarelado no final para quebrar o gelo e uma dose de pinga que arribe o pau do meu cavalo véi sertanejo.
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