quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O INÍCIO, O FIM E AS CONTROVÉRSIAS


“NINGUÉM SE DESPEDE DE QUEM JAMAIS ENCONTROU”

Alguns cavalgam comigo entre as veredas dos meus sertões sempre tão úmidos a espera da flor que já nasceu. Nos campos jaz um míope que até bem pouco tempo se regozijava da sua disfunção óptica: “Ah, santa miopia, a mesma que me mantém em estado permanente de encantamento nos dias sofríveis de ausência, a que me faz meter a cabeça na janela a cada 10 minutos tentando evocar o Olho Mágico de Tandera da Espada sagrada de Lion, a fim de encontrar você depois do horizonte do medo e da incerteza, quem sabe nas minhas lentes bifocais; a miopia que me obriga a traçar uma rotina disciplinada para cercar a caixa de correio feita de madeira, suplicando por cartas que me sejam familiares; a miopia que me faz ver embaçado, cenários de sonho cor de rosa anuviado e que nos tira de uma percepção sem graça e insossa da vida”. Mas eis a realidade, rainha e patroa das nossas agruras e sorrisos, derrubando todo o castelo de areia que a cegueira dos sentidos tão melindrosamente ergue sob nossas cabeças. O Belchior já dizia: “Viver é melhor que sonhar...”. E assim é e pelo mestre fico deveras orientado a mudar. Por isso, obrigado pela cantoria em oito oitavas a qual me desperta antes do quinto ato, ó sinfonia das minhas melhores defesas, porque no final da tragédia grega contemplo solitário, indolente, indiferente e feliz ao espetáculo que se finda com sonoros aplausos que eu jamais escuto, mas satisfeito porque o começo e o fim são sempre tão cheios de pompa, tão cheios de substância, a mesma que falta durante todo o processo, e são sempre o desabrochar de alguma coisa que não entendemos agora, mas que está vindo, cavalgando ao longe para acompanhar a primavera. Oh, Deus! Obrigado! E como agradecer às minhas menininhas, as controvérsias, que são tão suas por força do uso e minhas por preferência, caminham tão somente pela estrada das verdades, contrariando a sua natureza ambígua. A ambigüidade grita alto ao que ela se propõe nos derrubando do décimo terceiro andar, corpo ao chão, cabeça doendo – ressaca de consciência. Só é dolorido, pois tudo se sabe desde o início. Nada mais real do que uma controvérsia vestida de rubro escarlate, escancarando o menor e mais desnecessários dos vícios – a mentira. É tudo tão elementar, coisa simplória, quase brincadeira de adolescente. Minhas meninas não trabalham no terreno da falsidade nem se utilizam de maquiagens, nem frescurites e firuletes. O melhor delas é que fazem patrulhamento de arte ruim, e por isso trabalharam com a promessa de que logo, logo o “contra” se separaria do “verso” e a poesia ficaria órfã do ritmo. E foi o que aconteceu naquela folha de papel. Nessa via crúcis nos procuramos e nos perdemos com pontas de estrofes que nunca se uniram e jamais se unirão. E para o RP das controvérsias fica aquela dança envergonhada e abortada no hall do enigmático prédio que contrastou com o show de hoje à noite, o perfume importado que se dissipa em meio ao cheiro estranho e amargo das grosserias e também a poesia que se perde em meio às lacunas abissais de um discurso que teima em não seguir o caminho do óbvio. Ninguém quer o sagrado, terreno do irreal e das fantasias de relicário. O que eu quero é muito mais próximo, eu quero a verdade das superficialidades do início ao início, um sorriso amarelado no final para quebrar o gelo e uma dose de pinga que arribe o pau do meu cavalo véi sertanejo.  

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