segunda-feira, 11 de junho de 2012

A PROCURA DA ORDEM


As expressões destoam da linguagem. Pupilas perdidas retalham o sonho de outrora. E as palavras nada podem perante a onipresença da frieza. A perspectiva desenha sua imagem engessada. O músculo engessado. Talvez a ausência do músculo supremo. Tu me mostraste as mesmas imagens de fotos de um tempo onde éramos desconhecidos. A carne sangra as minhas súplicas e você chora o seu desdém. Nada como o desdém diante de súplicas, quando o objetivo é tão somente me manter ali, inerte na minha perplexidade covarde. Eu... que sou a razão do seu desequilíbrio ou nem isso.

Do alto de um prédio de 13 andares me grito em frases desarranjadas, tão confusas quanto meu desatino:

“Meu olhar flagrante te arrebata no instante do golpe de misericórdia.
O soco projetado no estômago das desilusões. Os olhos fechados. Ninguém pra ver.
A perda dos miúdos e das miudezas que eram a argamassa do meu castelo.
Agora me encolho fustigado no porão do adeus.
No vácuo escuro do esquecimento.
Não existe sua voz, nem a lascívia que me enobrecia.
Tentando te encontrar, me perdi.
Não há um só vestígio daquele cântico em versos nas escrituras proibidas.
Nem o bailar do seu vestido rupestre nas tardes da Fazenda do Equilibro.
A vida me parece tão exata agora. Que pena...”

Na horta do prédio, parte dos fundos,  debaixo de uma palha de bananeira, deparo-me com versos redondos. E eles diziam:

Teu olhar flagrante espreita o engano
Os pés descalços, os lados parados, os equívocos escancarados.
...
Pxii, Escuta...
Cala-te, menino, para que possas ouvir...
...
As retinas sem peso
Revelam o golpe que não é golpe
São apenas seus destemperos e minhas agonias ininteligíveis

Hoje uma vida; a dose certa do equívoco
Mas, por certo, O dragão hei de aniquilar

Amanhã, ainda recolhendo os cacos
Varrerei o chão da fortaleza em mim

Renascerei de pé para dormir sem sentir
E calar para no fim, oh alma inquieta...
Poder ouvir os passarinhos.

Não há santidade sem peregrinação.
Ass. A.M.

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