sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ALUCINAÇÃO MODERADA



Lembro do bote. A imensidão da morte. Um ente presente que dialoga com meu medo.
Falta oxigênio no meu cérebro, por isso não consigo conectar o pensamento, e aqueles que ouvem também não compreendem. Esse texto é o retrato da desconexão.
Não sei o que é pior, se o mar que deseja me tragar ou se o bote que vai desistindo de mim, ou se a lógica da sanidade que me abandona. 

- Os remos já se foram! A angústia é o meu panóptico, o vale do desconhecido.

Lambe as feridas - a humanidade desassistida. São os cosmopolitas no aeroporto do deputado. São os pedaços de uma terra chupada, onde moro, respiro, transpiro.
E fico! Não tenho espaço. Sou menos cosmopolita do que qualquer companheiro de boina e jaqueta. 

- Trás a palha, corto o aço. A carne fica e o corpo rejeita. Não sei o que é amor, nem me lembro de como é o orgasmo. Estou farto de experiências inúteis, bundas sem rosto e sobrenomes trocados. Sinto-me asfixiado. É o bote que já virou e a água que deseja me abraçar.
- Lembro do bote. A imensidão da morte. Um ente presente que dialoga com o meu destino.
O índio sorriu. O português entendeu. O negro fugiu. O Holandês se “fodeu”. O Operário ganhou terno elegante.
- O Patrão agradeceu.
Os cortiços caíram. O samba acabou. O português enriqueceu. A prostituta se casou. O lugar - aluga-se!
- Foi o início do Brasil. Foi o dia em que me reencontrei com o infinito do mar!

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